Se você chegou aqui de paraquedas, sugiro que leia também a primeira parte desta série de artigos sobre escrita, na qual discutimos a função dos verbos na narrativa.
Esta série de artigos é dividida em cinco partes. São elas:
- Utilize verbos expressivos
- Cuidado com a voz passiva
- Advérbios desnecessários não embelezam seu texto
- Troque adjetivos por substantivos mais significantes
- Corte construções dispensáveis
Hoje falaremos sobre vozes verbais. Em específico, sobre a importância do funcionamento de voz ativa e voz passiva na narrativa.
Abusar da voz passiva pode confundir seu leitor. Entretanto, seu bom uso pode ajudar a dar ritmo e clareza ao seu texto.
Na língua portuguesa existem três vozes verbais (ativa, passiva e reflexiva). Não vamos nos aprofundar no funcionamento de cada uma (a Wikipedia ajuda a entender o básico), mas o que precisamos entender nesse artigo é:
Cuidado com a voz passiva
Se você buscar na internet, encontrará diversos artigos, inclusive alguns escritos por autores conceituados, advertindo o escritor iniciante a evitar ao máximo usar voz passiva em seus textos. De fato, abusar da voz passiva pode confundir seu leitor. Entretanto, seu bom uso pode ajudar a dar ritmo e clareza ao seu texto.
Como, então, saber quando evitar a voz passiva?
Primeiramente, precisamos entender quando ela pode ser problemática. Há algumas situações específicas nas quais a voz passiva é desaconselhável:
Quando resulta em frases desnecessariamente longas
Muitas vezes, a voz passiva cria construções longas, que poderiam ser simplificadas com o uso da voz ativa. Por exemplo:
- o corpo foi encontrado por mim poderia ser reescrito simplesmente como eu encontrei o corpo. Ganha-se espaço e mantém-se o significado.
Quando as frases se tornam vagas ou confusas
Este caso depende um pouco da situação e de como a frase soa no contexto geral. Vejamos o exemplo a seguir:
- Paulo foi acertado pelo bastão de Marcela. O leitor pode imaginar várias coisas a partir dessa frase: talvez o bastão tenha consciência própria, ou talvez ele tenha escorregado e batido na cabeça de Paulo. Porém, se usarmos Marcela acertou Paulo com o bastão, fica mais claro que Marcela foi a autora da agressão.
Na maioria das vezes, durante a etapa de revisão do texto, ficará evidente quando a voz passiva deixa o texto confuso demais. É função do escritor perceber essas ocasiões.
A voz passiva, entretanto, pode ser usada para o bem. Existem ocasiões nas quais é aceitável e até preferível usá-la.
Quando devo usar a voz passiva?
A voz passiva, entretanto, pode ser usada para o “bem”. Existem ocasiões nas quais é aceitável e até preferível usá-la. Confiram a seguir bons usos da voz passiva:
- Trinta pessoas foram resgatadas do incêndio.
- Nesta frase, o importante é ressaltar as trinta pessoas salvas. Se quem as salvou não for uma informação importante, não há motivo para explicitar.
- O correio era entregue na porta de minha casa todas as manhãs.
- Outra vez, não estamos interessados em saber quem é o agente da ação. O foco está no correio, por isso ele está na frente da frase.
- Marko seguiu em direção à liberdade, mas ela lhe foi negada no último instante. (trecho do meu livro Réquiem para a Liberdade)
- Quem (ou o quê) negou a liberdade a Marko? Nesta frase, a informação foi omitida, apenas para ser revelada no próximo parágrafo, criando um mistério atrativo para que o leitor continue a leitura.
Percebem como a voz passiva pode deixar sua frase mais rica e significativa? É preciso apenas perceber o que soa melhor, de acordo com a mensagem que você deseja passar.
Obrigado por acompanharem até o fim. Convido-os a escrever um comentário abaixo e contribuir para a discussão. Nos vemos no próximo artigo, quando falaremos sobre advérbios.
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Parabéns pelo artigo! É importante pensar sobre isso especialmente quando há limites de palavras (não que não deva ser feito quando não há), pois frases desnecessariamente longas podem comer as palavras necessárias para o desenvolvimento dos personagens, ambiente ou enredo.
Abraços!
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